Carlos Braz*
No período de 24 a 30 de setembro acontece em todas
as unidades museais do Brasil, cadastradas no Instituto Brasileiro de Museus
(IBRAM), a VI Primavera dos Museus, evento cujo tema central será a função
social desses espaços, presentes em quase todos os recantos do país. Foi-se o
tempo em que os museus eram palácios iluminados para iluminados, restritos à
elite detentora do poder e do conhecimento, distantes das comunidades em seu
entorno, desatentos aos seus anseios e necessidades, guardião de objetos apenas
úteis para contemplação de poucos. O movimento intitulado Nova Museologia, que
teve início em meados da década de 70 do século passado, direcionou as casas de
memória para um novo patamar, democratizando-as, e levando-as a atuar como
ferramenta inclusiva de grupos desassistidos socialmente, com acervos
potencializados como fonte de transmissão de conhecimento e evolução cultural. Quarenta
anos passaram-se desde a realização da Mesa Redonda de Santiago do Chile,
patrocinada pelo ICOM, Conselho Internacional de Museus, em Maio de 1972, que
deliberou que o
“museu é uma
instituição a serviço da sociedade e seu desenvolvimento, da qual é parte
integrante e que possui neles mesmos os elementos que lhe permitem participar
na formação da consciência para o engajamento dessas comunidades na ação,
situando suas atividades em um quadro histórico que permita esclarecer os
problemas atuais, isto é, ligando o passado ao presente; engajando-se nas
mudanças de estrutura em curso e provocando outras mudanças no interior de suas
respectivas realidades nacionais”.
Uma lenta, porém visível revolução entrava em curso. Surgiram os museus globais, alterando o dia de áreas antes degradadas, verdadeiros espetáculos arquitetônicos onde exposições de arte, com uma nova dimensão, ganharam a mídia sendo notícia universal, ao tempo em que os espaços tradicionais de memória, com nova dinâmica e antenados aos novos tempos, contabilizavam um aumento expressivo no seu número de visitantes, e cursos técnicos e superiores de Museologia começaram a ser criados em países sul-americanos.
Metas desafiadoras foram traçadas desde então, em face de uma conturbada cena político-social na América Latina, palco constante de liberdades individuais suprimidas e reivindicações de minorias. As sementes lançadas ao vento em terras chilenas, naturalmente, não germinaram a contento, com muito ainda a ser executado.
A diretriz N. 10 do I Encontro Ibero-americano de Museus, realizado em Junho de 2007 na cidade de Salvador-BA, ratificou a necessidade de
“compreender
o processo museológico como exercício de leitura do mundo que possibilita aos
sujeitos sociais a capacidade de interpretar e transformar a realidade para a
construção de uma cidadania democrática e cultural, propiciando a participação
ativa da comunidade no desenho das políticas museais”.
Assim, compreendemos que em grande parte do
continente latino americano o museu como espaço de convivência sócio cultural é
um sonho ainda a ser realizado.
No Brasil, a cena museológica cristaliza-se nas páginas da publicação Museus em Números, publicada pelo Ministério da Cultura no ano de 2011, cujo diagnóstico permite entrever as disparidades existentes, onde as instituições do sudeste sobressaem-se em termos de gestão voltada para ações sociais.
No campo doméstico, Sergipe vive hoje um momento de
expansão com o surgimento de novos espaços de cultura e memória. Em Aracaju, no
ano de 2010 cria-se o Palácio Museu Olímpio Campos e em seguida o Museu da
Gente Sergipana, repleto de atraentes tecnologias que contribuem positivamente
para uma melhor compreensão, por parte da sociedade, da finalidade dos museus.
No interior do estado nasce o Museu de Itabaiana, ao lado do Museu do Cangaço,
no município de Frei Paulo, povoado Alagadiço iniciativas inéditas naquela
região. Museu Histórico de Sergipe e o Museu de Arte Sacra, ambos em São
Cristovão, e o Museu Afro Brasileiro de Sergipe, no município de Laranjeiras,
funcionam plenamente há vários anos.
Em breve contaremos com o Museu da Policia Militar, em São Cristovão, e em Aracaju teremos o Museu do Mangue, a Casa de Cultura Jenner Augusto, e o espaço Zé Peixe, que, juntando-se a outros já existentes, completam um elenco considerável em número de instituições.
Dez museus do nosso Estado responderam ao questionário enviado para a formação do cadastro do IBRAM, um número sugestivo, levando-se em conta sermos o menor estado da federação. Destes, 60% afirmam que realizam ações educativas, sem dúvida um excelente percentual, que, todavia, não causa mudanças perceptíveis no meio social. Apenas um declarou possuir orçamento próprio e nenhum conta com a parceria de Associações de Amigos do Museu.
Ao mesmo tempo, o mercado cultural/museal começa a receber os bacharéis em Museologia formados na Universidade Federal de Sergipe (UFS), profissionais competentes, ansiosos para mostrarem seus conhecimentos, aptos a participarem ativamente na construção da estrutura necessária para transformar nossos museus em entidades que efetivamente promovam significativas transformações sociais, através dos seus projetos.
A função social do museu em Sergipe ainda não é perceptível para muitos, dependendo de várias outras ações para sua efetivação. Uma análise objetiva deixa entrever que é imprescindível a presença de museólogos e equipes multidisciplinares a serviço das instituições, que apoiadas por políticas público-privadas, transformem os museus em espaços socialmente importantes, agentes de mudança social e desenvolvimento. A VI Primavera dos Museus torna-se, portanto, uma oportunidade impar para se refletir sobre o assunto.
* Carlos Braz é acadêmico do Curso de Museologia na
Universidade Federal de Sergipe. Email: carlos_braz@globo.com
FONTES:
FORUM NACIONAL DE MUSEUS (2008). Museus como agentes de mudança social e desenvolvimento:
relatório. Brasília: Minc/IBRAM, 2010.
IBRAM. Museu
em Números 2011. Brasília, 2011. (Vol. 2)
NASCIMENTO JR, José do; CHAGAS, Mario de Souza
(Orgs.) IBERMUSEUS 1 - Panoramas
museológicos da Íbero América. 2ª. edição. Brasília, 2010.
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