Prédio e acervo do Museu Histórico de Sergipe remontam o século XVIII. Naquele contexto de um Brasil Colonial a economia canavieira galgara pico de produção e o mercado exterior favorecendo o embelezamento de conventos e igrejas. Boa parte dos sobrados existentes no centro histórico de São Cristóvão, sede da então Capitania de Sergipe d’El Rey, serviam a administração ou moradia de burocratas e veraneio de abastados senhores de engenho da zona do Cotinguiba e/ou do Vaza Barris. Este não era o caso do proprietário do sobrado localizado a praça São Francisco de São Cristóvão, o tenente Domingos Rodrigues Vieira de Melo, um militar.
A Emancipação Política de Sergipe da Bahia, em 1820,
ocasionou a crescente necessidade de compra e disponibilidade de prédios para
administração. Disso resultou a compra do sobrado ao militar no ano de 1823.
Incorporado aos próprios nacionais o prédio foi reedificado e inaugurado em 12
de outubro de 1825, na gestão do Presidente (Governador) Manuel Clemente Cavalcante
de Albuquerque, como parte das comemorações das Festas Nacionais em homenagem
ao aniversário de Sua Majestade D. Pedro I e à Fundação do Império.[1]
Com acentuada tendência liberal, Manuel Clemente
governou durante 20 meses, impingindo medidas inovadoras e alheio aos embates
políticos. Dentre as principais medidas constam a fundação de um jardim
botânico para centro de apoio a agricultura; organização da “Casa do Trem” com
instrutor para formar trabalhadores de artes e ofícios manuais, ampliação do efetivo
militar e introdução de método lancasteriano na educação da Província.[2]
Sua morte repentina, no dia 2 de novembro de 1826, consternou a todos. Como ele
havia manifestado o desejo de ser enterrado “numa das igrejas da cidade”, foi inumado no chão do Convento São
Francisco.[3]
Em 1855, o Palácio do Governo foi avaliado, com
certo exagero, em 50:000$000 (cinqüenta contos de réis), num momento em que os
opositores a Mudança da Capital listava o prejuízo aos cofres públicos com o
ato de Inácio Joaquim Barbosa, então Presidente da Província.[4]
Cinco anos depois, em viagem pelo nordeste, o
imperador Dom Pedro II conheceu Sergipe entre os dias 4 e 19 de janeiro de
1860, na companhia da imperatriz Tereza Cristina. O monarca visitou a
ex-capital no dia 18 e foi homenageado no prédio que servia de Câmara Municipal
de Vereadores. Nele armou-se capela e sala de despachos, teve beija-mão e
dossel para o ilustre monarca.[5]
João Bebe-Água, apelido do principal opositor a
Mudança da Capital, foi vereador do Partido Liberal e nessa condição freqüentou
o vetusto monumento. Apesar dos adjetivos impingidos pelos adversários
políticos (louco, maltrapilho, cachaceiro) João Nepomuceno Borges, seu nome de
batismo, legou uma comovente lição de amor a cidade de São Cristóvão. A promessa
de guardar fogos para estourar no dia do retorno da Capital e a jura de morrer
sem conhecer Aracaju romantiza seu incompreendido bairrismo quixotesco.
Antigo Palácio Provincial e João Bebe-água recriado na imaginação do artista Nivaldo Oliveira. Xilogravura, 2013 |
O Estado comprou o prédio que pertencia a Fazenda
Federal por 2:000$000 (dois contos de réis), conforme escritura de compra e
venda de 19 de março de 1918.[6]
Experimentou um período de completo abandono. Nas décadas de 1920 e 1930, nele
funcionou a delegacia da cidade. Em janeiro de 1940, durante gestão do prefeito
Antônio Silvio Bastos o antigo Palácio Provincial foi reformado para instalação
da Escola Barão de Mauá.[7]
Mas foi a Mesa de Rendas Federais (Exatoria) que aí permaneceu instalada
durante anos. Em 1951-1952, era sede do sindicato dos Operários de São
Cristóvão, com sala de jogos e salão de baile. O Grupo Escolar Vigário Barroso
ficou instalado durante reforma de sua sede.
Em
1960, no dia 5 de março, foi inaugurado o Museu Histórico de Sergipe, no
Governo de Luis Garcia.
FONTE: FRAGATA,
Thiago. Cinqüentenário do Museu Histórico de Sergipe: o sobrado (I). Jornal da Cidade. Aracaju, ano XXXIX,
N. 11.309, 28 e 29/03/2010, p. B-11.
NOTAS DE
PESQUISA
[1] NUNES
Maria Thétis. História de Sergipe a
partir de 1820. Rio de Janeiro, Editora Cátedra, 1978, p. 113.
[2]
NUNES, Maria Thétis. Sergipe provincial.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000, p. 141, 151 e 154.
[3]
Testamento de Manoel Clemente Cavalcante de Albuquerque. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju,
ano II, n. 5, 1914, p. 131-132.
[4] Correio Sergipense. Papéis antigos. Revista do Aracaju. Aracaju, 1944, p.
265.
[5] GALVÃO, Manuel da Cunha. Viagem Imperial á
Província de Sergipe, ou narração dos preparativos, festejos e felicitações que
tiverão logar por occasião da visita que fizerão á mesma província, em janeiro
de 1860. Bahia: Typ. do Diário, 1860, p. 95.
[6]
Cartório do 1. Ofício da Comarca de Aracaju. Livro de Notas, fls. 57
a 59.
[7] Recibo de despesa. Tesouraria Arquivo da Prefeitura Municipal de São
Cristóvão, 04/12/1939-05/04/1940.
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