quarta-feira, 2 de abril de 2014

RODA DE LEITURA SABORES DE SÃO CRISTÓVÃO



Rosana Eduardo, Thiago Fragata, Rose Barbosa, Rosineide Santana, Jorge dos Santos, Aglacy Mary

O Museu Histórico de Sergipe realizou a Roda de Leitura “Sabores de São Cristóvão”, na última sexta (28/3). O evento explorou textos poéticos de sabores inconfundíveis da quarta cidade mais antiga do Brasil, como da queijada, beijus, bricelets, e nem mesmo a moqueca faltou ao cardápio. Os contadores Rosana Eduardo, Aglacy Mary, Rose Barbosa, Rafaela Pereira e os alunos da Escola do Lar Imaculada Conceição (ELIC), que fazem parte do projeto 'Poetas' coordenado pela professora Cleide, revezaram-se na leitura das obras.

Segue texto e imagens do evento:

Thiago Fragata leu trecho do cordel 'São Cristóvão', de Luiz Melo

SÃO CRISTÓVÃO
Luiz Melo

Toda semana a cidade
Costuma fazer a feira
No mercado que se espalha
E quase sobe a ladeira
Com o movimento de gente
Que circula sem canseira.

Tem coisas para se ver
Em qualquer canto ou lugar
Mas também se pode ter
Dentro de casa ou num bar
Uma comida bem simples
Ou um refinado manjar.

Que gosta de caruru
Vai encontrar um bem feito
Em São Cristóvão na praça
Onde se come direito
Com arroz e uma pimenta
Pra ninguém botar defeito.

Tem licor de jenipapo
De tangerina e canela,
De cravo, jabuticaba,
Laranja, ameixa e groselha,
Em garrafas sedutoras
Em exposição na janela.

Há confeite de castanhas
Com muito açúcar ao redor.
Quem come um não consegue
Descobrir o que é melhor:
A castanha só torrada
Ou a que alguém confeitou.

Qualquer lugar é motivo
Pra serenata e poesia.
São Cristóvão brilha sempre
Seja de noite ou de dia
E merece ser lembrada
Com verdadeira alegria.



Aglacy Mary lembrou queijadas da Dona Jeninha

DOCE PATRIMÔNIO
Aglacy Mary

Noto um sorriso nascendo em meu rosto
Quando escuto a memória dos passos em salto
Sobre as pedras que me levavam
Ao fogão de lenha de Dona Jeninha.
Na esquina, a porta verde de madeira,
Quase sempre aberta,
Mandava transpor uma sala escura
Por onde se anunciavam
Cheiros de uns dias de infância.
A cozinha de uma tia-avó
Parecia renascer ali,
Onde me punha
À espera de uma fornada.
A virtude do convento
E o leve pecado de meu desejo,
Queijada,
Achavam-se no mesmo endereço:
São Cristóvão.

Rosana Eduardo estreou como contadora

A professora Rosana Eduardo, pesquisadora da culinária sancristovense, compartilhou uma poesia inédita de Thiago Fragata:

SABOR SÃO CRISTÓVÃO
Thiago Fragata

Castanha caramelada nunca mais provei
Barquinho confeitado quanta saudade!
Doces lembranças amargam
Doces, doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.

Nem tudo é doce
Baijú é quase beijo, pode ser molhado, até má-casado
Saroiô e beijo molhado!
Doces, doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.

Queijada não leva queijo, mas o branco do coco e açúcar
experimente mas não esquece de cuidar os dentes!
Doces, doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.

Queijada, se fosse escolher o sabor da cidade
Seria o bricelets ou o doce mais doce
Doce de batata-doce.
Doces, doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.


 
Rafaela Pereira recitou poesia de Freire Ribeiro
Ex-estagiária do Museu Histórico de Sergipe, Rafaela Pereira é a atual diretora da Biblioteca Municipal Dr. Lourival Baptista. Ela aceitou o convite e encantou o público com poesia de Freire Ribeiro .

CURIMÃ DE SÃO CRISTÓVÃO
Freire Ribeiro

Curimã de São Cristóvão
No sul – chamada tainha
Curimã bem preparada
Num pirão da cor de ouro
De rara quitutaria
Nos dá sono, doce inércia
Cozinhada por Lucrecia
- mãe de santo da Bahia

Curimã de São Cristóvão
Muito gorda e bem amada,
- desperta fome danada
Que a gente nunca prevê!
Curimã de São Cristóvão
Na muqueca, preparada
Com azeite e dendê!

Curimã de São Cristóvão
Na casa de Joao José,
Coronel e meu amigo,
É coisa que nao se diz!
É quitute de primeira
Fazendo inveja danada
A um mestre-cuca afamado
De Nova Iorque ou Paris!

Vinho branco, vinho puro.
Engarrafado, velhinho,
De Portugal, - o bom vinho
Já caduco, num barril,
Com pirão ou com muqueca
Da curimã cristovense,
É a coisa mais gostosa
Que se come no Brasil.


Contadora Rose Barbosa lembrou a muqueca

MUQUECA
Thiago Fragata

Muqueca de fôia da páia da bananeira
Preparada com sal, dende e amor,
ao sol e ao fogo no abano da nega
marisqueira incansável do rio Paramopama.
É ela que pega o peixe e o camarão
Faz um tempero que é segredo
Cói a fôia da bananeira
Prepara a chapa e o fogo
Tai a receita da muqueca!

Muqueca de fôia da páia da bananeira
Que a nega sobe e desce ladeira
Desfila nas ruas, becos e praças
De bar em bar, deu em deu
Ela não grita bordão, é assediada
É que o cheiro atraiu os fregueses
Bichanos sentiram o cheiro distante...
No Apicum Mérem!


Rosineide Santana recitou a poesia de Maria Lucia Dal Farra...
Alunos do ELIC leram seus trabalhos poéticos...
...e todos provaram a inspiração das poesias

PS: Thiago Fragata, coordenador do evento, lançou o segundo post Monóculo que lembrou atividade educativa sobre os doces e doceiras da quarta cidade mais antiga do Brasil. A exposição "Dengos e Doçuras" foi lançada em 29 de outubro 1993, na gestão de Ana Medina. 

Saber mais? click aqui!

OBRAS PESQUISADAS
FRAGATA, Thiago. Poesias inéditas - 2007/2014. São Cristóvão, 2014.
MELO, Luiz. São Cristóvão (Literatura de cordel). 2006.
RIBEIRO, Freire. São Cristóvão em Sergipe Del Rey (poesias). 1971.

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