O Museu Histórico de Sergipe realizou a Roda de Leitura “Sabores
de São Cristóvão”, na última sexta (28/3). O evento explorou textos poéticos de
sabores inconfundíveis da quarta cidade mais antiga do Brasil, como da queijada,
beijus, bricelets, e nem mesmo a moqueca faltou ao cardápio. Os contadores Rosana Eduardo, Aglacy Mary, Rose Barbosa, Rafaela Pereira e os
alunos da Escola do Lar Imaculada Conceição (ELIC), que fazem parte do projeto 'Poetas' coordenado pela professora Cleide, revezaram-se na leitura das obras.
Segue texto e imagens do evento:
SÃO CRISTÓVÃO
Luiz Melo
Toda semana a cidade
Costuma fazer a feira
No mercado que se espalha
E quase sobe a ladeira
Com o movimento de gente
Que circula sem canseira.
Tem coisas para se ver
Em qualquer canto ou lugar
Mas também se pode ter
Dentro de casa ou num bar
Uma comida bem simples
Ou um refinado manjar.
Que gosta de caruru
Vai encontrar um bem feito
Em São Cristóvão na praça
Onde se come direito
Com arroz e uma pimenta
Pra ninguém botar defeito.
Tem licor de jenipapo
De tangerina e canela,
De cravo, jabuticaba,
Laranja, ameixa e groselha,
Em garrafas sedutoras
Em exposição na janela.
Há confeite de castanhas
Com muito açúcar ao redor.
Quem come um não consegue
Descobrir o que é melhor:
A castanha só torrada
Ou a que alguém confeitou.
Qualquer lugar é motivo
Pra serenata e poesia.
São Cristóvão brilha sempre
Seja de noite ou de dia
E merece ser lembrada
Com verdadeira alegria.
Aglacy Mary lembrou queijadas da Dona Jeninha |
DOCE PATRIMÔNIO
Aglacy Mary
Aglacy Mary
Noto um sorriso nascendo em meu rosto
Quando escuto a memória dos passos em salto
Sobre as pedras que me levavam
Ao fogão de lenha de Dona Jeninha.
Na esquina, a porta verde de madeira,
Quase sempre aberta,
Mandava transpor uma sala escura
Por onde se anunciavam
Cheiros de uns dias de infância.
A cozinha de uma tia-avó
Parecia renascer ali,
Onde me punha
À espera de uma fornada.
A virtude do convento
E o leve pecado de meu desejo,
Queijada,
Achavam-se no mesmo endereço:
São Cristóvão.
A professora Rosana Eduardo, pesquisadora da culinária sancristovense, compartilhou uma poesia inédita de Thiago Fragata:
SABOR SÃO CRISTÓVÃO
Thiago Fragata
SABOR SÃO CRISTÓVÃO
Thiago Fragata
Castanha
caramelada nunca mais provei
Barquinho
confeitado quanta saudade!
Doces
lembranças amargam
Doces,
doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.
Nem
tudo é doce
Baijú é
quase beijo, pode ser molhado, até má-casado
Saroiô
e beijo molhado!
Doces,
doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.
Queijada
não leva queijo, mas o branco do coco e açúcar
experimente
mas não esquece de cuidar os dentes!
Doces,
doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.
Queijada,
se fosse escolher o sabor da cidade
Seria o
bricelets ou o doce mais doce
Doce de
batata-doce.
Doces,
doces, doces, dengos e doçuras de São Cristóvão.
Ex-estagiária do Museu Histórico de Sergipe, Rafaela Pereira é a atual diretora da Biblioteca Municipal Dr. Lourival Baptista. Ela aceitou o convite e encantou o público com poesia de Freire Ribeiro .
CURIMÃ DE SÃO CRISTÓVÃO
Freire Ribeiro
Curimã de São
Cristóvão
No sul – chamada
tainha
Curimã bem preparada
Num pirão da cor de
ouro
De rara quitutaria
Nos dá sono, doce
inércia
Cozinhada por
Lucrecia
- mãe de santo da
Bahia
Curimã de São Cristóvão
Muito gorda e bem
amada,
- desperta fome
danada
Que a gente nunca
prevê!
Curimã de São
Cristóvão
Na
muqueca, preparada
Com
azeite e dendê!
Curimã de São
Cristóvão
Na casa de Joao José,
Coronel e meu amigo,
É coisa que nao se
diz!
É quitute de primeira
Fazendo inveja danada
A um mestre-cuca
afamado
De Nova Iorque ou
Paris!
Vinho branco, vinho
puro.
Engarrafado,
velhinho,
De Portugal, - o bom
vinho
Já caduco, num
barril,
Com pirão ou com
muqueca
Da curimã
cristovense,
É a coisa mais
gostosa
Que se come no
Brasil.
MUQUECA
Thiago Fragata
Thiago Fragata
Muqueca
de fôia da páia da bananeira
Preparada
com sal, dende e amor,
ao
sol e ao fogo no abano da nega
marisqueira
incansável do rio Paramopama.
É
ela que pega o peixe e o camarão
Faz
um tempero que é segredo
Cói
a fôia da bananeira
Prepara
a chapa e o fogo
Tai
a receita da muqueca!
Muqueca
de fôia da páia da bananeira
Que
a nega sobe e desce ladeira
Desfila
nas ruas, becos e praças
De
bar em bar, deu em deu
Ela
não grita bordão, é assediada
É
que o cheiro atraiu os fregueses
Bichanos
sentiram o cheiro distante...
No
Apicum Mérem!
Alunos do ELIC leram seus trabalhos poéticos... |
...e todos provaram a inspiração das poesias |
PS: Thiago Fragata, coordenador do evento, lançou o segundo post Monóculo que lembrou atividade educativa sobre os doces e doceiras da quarta cidade mais antiga do Brasil. A exposição "Dengos e Doçuras" foi lançada em 29 de outubro 1993, na gestão de Ana Medina.
Saber mais? click aqui!
OBRAS PESQUISADAS
FRAGATA, Thiago. Poesias inéditas - 2007/2014. São Cristóvão, 2014.
MELO, Luiz. São Cristóvão (Literatura de cordel). 2006.
RIBEIRO, Freire. São Cristóvão em Sergipe Del Rey (poesias). 1971.
Saber mais? click aqui!
OBRAS PESQUISADAS
FRAGATA, Thiago. Poesias inéditas - 2007/2014. São Cristóvão, 2014.
MELO, Luiz. São Cristóvão (Literatura de cordel). 2006.
RIBEIRO, Freire. São Cristóvão em Sergipe Del Rey (poesias). 1971.
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