D. Pedro II. Obra de Vitor Meirelles, 1864 |
Thiago Fragata**
A presença do Imperador D. Pedro II é
sempre uma referência importante que desperta a curiosidade, o interesse do
pesquisador, do visitante do Museu Histórico de Sergipe. O “imperador
viajante”, como bem acentuou seus biógrafos, não tinha uma erudição amparada nos
livros, pesquisas e na experiência administrativa mas também nas viagens que
realizou aos mais distantes lugares do Brasil, uma obrigação que cumpria com
satisfação e bom humor. Como ele visitou a Província de Sergipe, inclusive
pernoitou em São Cristóvão, no sobrado em que hoje funciona o referido museu, a
memória do acontecimento persiste às vezes de forma distorcida nas conversas de
esquina da antiga cidade. Vejamos o que é possível informar a partir de uma
publicação da época.
Consta que entre os dias 11 e 19 de janeiro de 1860, Dom Pedro II e a imperatriz
Tereza Cristina conheceram Sergipe. De Aracaju, capital da Província, o
imperador visitou as vilas de Barra dos Coqueiros, Propriá, Vila Nova (Neópolis),
Porto da Folha e Itaporanga; também, as cidades de Maruim, Laranjeiras, Estância
e São Cristóvão. O plano inicial era chegar a ex-capital navegando pelo
Vaza-Barris, mas a notícia da barra ressacada (com mar revolto) influiu na escolha da montaria (cavalo) o que teria
inviabilizado assim presença da imperatriz.
Na manhã do dia 17 de janeiro, às 5
horas, centenas de cavaleiros acompanharam a comitiva imperial depois da queima
de fogos e formalidades de estilo. O imperador trajava paletó preto, calça
branca, chapéu de palha e botas de montaria. A missão era formada por unidade
da Guarda Nacional, Presidente Provincial, Manuel da Cunha Galvão, secretários,
chefe da Polícia e demais autoridades. Cumpriram itinerário até São Cristóvão pela
estrada de Campo Grande, Mundé da Onça e Vale do Medo, vencendo 5 léguas em 2 horas.
Na chegada a São Cristóvão a comitiva
imperial foi recepcionada com vivas e flores, num centro histórico engalanado
de arcos e colchas que ornavam as janelas residenciais. Cerca de 1200 praças,
sob o comando do Tenente Coronel José Guilherme da Silveira Teles, da Guarda
Nacional, prestaram continência ao magnânimo Imperador do Brasil. Este ficou
hospedado no antigo Palácio Provincial que servia de Câmara Municipal de
Vereadores e fora especialmente preparado para acomodar o ilustre monarca. Na
sua estada, Dom Pedro II visitou escolas e argüiu alunos e professores, esteve
nos conventos e igrejas, doou esmola a Santa Casa de Misericórdia, orou na
Igreja Matriz, conheceu o mercado e cemitério local, ainda concedeu beijamão no
salão (atual Sala Horácio Hora, do Museu Histórico de Sergipe). Embora nada
mencione nas suas memórias é crível pensar que ele teria dormido num dos
quartos do sobrado.
No dia seguinte, 18/1/1860, o
imperador galopou 4 léguas até o engenho Escurial, propriedade de Antonio Dias
Coelho e Mello, a fim de conhecer sua produção canavieira e criações de gado,
cavalo e ovino. Antes do retorno a Aracaju, Dom Pedro II participou de almoço
especialmente oferecido pelo proprietário do único engenho visitado em Sergipe.
Obra descreve como o atual Museu Histórico de Sergipe foi ornamentado para hospedar D. Pedro II |
*Informações estão na
obra: “Viagem Imperial á Provincia de Sergipe, ou narração dos preparativos,
festejos e felicitações que tiveram lugar por ocasião da visita que fizerão a
mesma província Suas Magestades Imperiais em janeiro de 1860”. Cópia disponível
no Museu Histórico de Sergipe.
**Thiago Fragata é
especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Sergipe, membro
do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), do Conselho Municipal
de Cultura de São Cristóvão e diretor do Museu Histórico de Sergipe
(MHS/SECULT). Email: thiagofragata@gmail.com
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