MHS completou 55 anos. Foto: Gladston Barroso |
Na última terça, (10/3), o novo diretor do Museu Histórico de Sergipe, Sérgio Lacerda, assumiu as funções na importante instituição. O historiador Thiago Fragata deixa um legado importante da sua gestão (2009/2010), incluindo prêmios nacionais e o reconhecimento da sociedade. Ele disse que só tem o que agradecer a oportunidade que teve de por a prova sua competência, lembrou o saudoso Governador Marcelo Deda. Thiago Fragata agradeceu também aos parceiros, a sua valorosa equipe que desejou realizações e sucesso ao novo diretor. Disse que seu último artigo no Jornal da Cidade (sábado, 7/03) acerca do aniversário do MHS destaca alguns aspectos da sua gestão. (Confira abaixo!)
MUSEU HISTÓRICO DE SERGIPE: 55 ANOS, 3 FUNÇÕES
Na última quinta (5/3), o Museu
Histórico de Sergipe, unidade da Secretaria de Estado da Cultura, completou 55
anos. Ele desenvolve 3 funções que merecem a atenção dos fazedores de cultura,
educação e turismo. O primeiro museu público - leia-se criado pelo Governo do
Estado -, tinha uma função educativa inerente, destacada na sua lei de criação (Lei
N. 988, de 21 de setembro de 1960) e na cartilha distribuída aos convidados na
noite de inauguração, dia 5 de março de 1960.
Função Educativa - Vejamos o que diz o
parágrafo de introdução deste documento: “nos dias atuais, assumem os Museus
uma posição relevante em todos os países. Justamente são as nações mais
industrializadas, que maior importância lhes atribuem. Não tem os museus uma
função estática, mas essencialmente dinâmica. Cabe-lhes não apenas preservar o
patrimônio histórico e artístico de um povo, mas principalmente uma missão
educativa (…) foi esta compreensão que norteou o governo Luis Garcia a criar o
Museu de Sergipe”.
Recitais e musicais, exposições
temporárias, lançamentos de livros e selos, rodas de leituras e oficinas
diversas, palestras, enfim, uma variedade de ações educativas foi ofertada ao
público misto que freqüentou a instituição cinqüentenária. Com isso, é
pertinente corrigir os que consideram Educação Patrimonial como atividade
datada, formalizada com a publicação do Guia Básico de Educação Patrimonial,
1999, a partir das experiências educativas de Maria de Lourdes Parreiras Horta
e Evelina Grunberg no Museu Imperial, de Petrópolis.
O fluxo de estudantes do ensino médio e
superior, da rede pública e particular, supera o fluxo de turistas no Museu
Histórico de Sergipe em qualquer década ou ano pesquisado. Diante disso, questionamos:
por que razão o senso comum insiste em pensar museu como exclusividade de
turistas? E se assim fosse, não é o museu uma instituição também educativa?
O Museu Histórico de Sergipe conquistou,
no ano de 2013, o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, reconhecimento do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional às instituições
brasileiras que realizam ações de preservação. Na categoria Responsabilidade Social
o objeto de sua inscrição foi o “Programa Educativo 2010-2012” que destacou as
ações educativas que contribuíram para o reconhecimento da Praça São Francisco
enquanto Patrimônio da Humanidade junto a UNESCO.
Função Turística - São Cristóvão não é
um pólo de turismo embora suas potencialidades, especialmente a vinculada ao
patrimônio cultural, reuna condições do vir-a-ser. O esforço do Governo
Estadual e Federal, de alguns senadores e deputados, para transformar o sobrado
do antigo palácio provincial em Museu Histórico de Sergipe (o primeiro nome era
Museu de Cultura Popular de Sergipe) aconteceu justamente num momento em que
cidade declinava do seu potencial fabril. As duas fábricas de tecidos iniciaram um processo de falência
irreversível na década de 1960, por sua vez a criação do museu endossava a
alvissareira “industria sem chaminé” incentivada pelo Regime Militar,
inclusive.
A portentosa arquitetura neoclássica,
cunhada pelo brasão do império, além do seu acervo rico e diversificado
moldaram um forte atrativo turístico na antiga Capital. As estatísticas
confirmam um aumento no fluxo de turistas estrangeiros desde a chancela de
Patrimônio da Humanidade, de 2010, porém desde 2012 caiu a quantidade de
turistas no centro histórico e, também, no Museu Histórico de Sergipe. A não
realização dos eventos culturais da cidade (Festival de Arte, Carnaval, São
João, etc), nos últimos anos, figura dentre as causas deste cenário
desanimador.
Na contramão disso, o Museu Histórico de
Sergipe visando incrementar o atendimento ao turista estrangeiro tem em seu
quadro de funcionários um intérprete desde 2010. Pela excelência no atendimento
a estrangeiros é que a instituição recebeu o selo da TripAdivisor, empresa que
pesquisa o índice de satisfação do público visitante das muitas instituições
museais do mundo.
Função Social - Toda e qualquer instituição
deve funcionar a partir do seu território, da sua comunidade, da sua
vizinhança. Calcada numa compreensão da museologia social é que algumas
iniciativas, ações educativas, envolveram o público sancristovense. Para não
pensar exemplos recentes, o projeto Dengos e Doçuras de São Cristóvão realizou a
feira gastronômica e exposição temporária das doceiras e quituteiras da cidade;
foi em novembro de 1993, na gestão de Ana Maria da Fonseca Medina. Em 2010, o
Círculo dos Ogãs, hoje realizado pela Ong Sociedade para o Avanço Humano e
Desenvolvimento Ecosófico (SAHUDE), acolheu nas dependência do museu o povo de
17 terreiros de candomblé para um seminário que discutiu políticas afirmativas
e cidadania, além do ato ecumênico. O evento que recebeu o prêmio Abdias
Nascimento, em 2013, foi idealizado por Thiago Fragata, diretor do Museu
Histórico de Sergipe. O tema da quinta edição (2014) foi “Mulheres Negras”.
Na cidade que teve o pior IDEB (Índice
de Desenvolvimento de Educação Básica) de Sergipe em 2012, o corpo docente que
integra a Rede Municipal de Educação foi penalizada com corte salarial de 50% há
dois anos, e isso reflete diretamente e de forma negativa no rendimento
escolar. Diante da triste realidade é que o Museu Histórico de Sergipe promove
rodas de leituras temáticas desde 2011, essas ações educativas têm como público
os alunos das escolas da região. O projeto objetiva formar leitores, divulgar
literatura e autores, fomentar a prática da leitura compartilhada.
Consideração final - O Museu Histórico
de Sergipe é uma instituição que tem um perfil definido nos seus documentos
fundadores e sua expografia se acha calcada no acervo. A ocorrência de
arrombamento e roubo de suas obras de arte (3 punhais e 3 armas de fogo), na
madrugada dos dias 26 de dezembro de 2014 e 26 de janeiro do ano corrente, além
dos equipamentos que serviam as importantes ações educativas, revelam sua
fragilidade no quesito segurança. O Governo do Estado promete providências,
através da Secretaria de Estado da Cultura, e esse é o melhor presente para
quem preserva o nosso passado e contribui na promoção da cultura, educação e
turismo.
*Thiago Fragata é poeta e historiador, Ex-diretor
do Museu Histórico de Sergipe (MHS/SECULT), especialista em História Cultural
pela UFS, membro do Instituto Histórico de Geográfico de Sergipe (IHGSE), do
Grupo de Pesquisa Sergipe Oitocentista (SEO/Cnpq) e do Grupo de Pesquisa
Culturas, Identidades e Religiosidades (GPCIR/Cnpq).
NOTAS
DE PESQUISA
1 - Museu de Sergipe. Aracaju, 1960. Acervo do Museu Histórico de Sergipe.
2 - HORTA, Maria de Lourdes Parreiras,
GRUNBERG, Evelina, MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.
3 - LEI N. 988, de 21 de setembro de
1960. Diário Oficial do Estado de
Sergipe. Aracaju, ano XLI, N. 14.054, 24 de setembro de 1960, p. 1.