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Jogral dos alunos do Colégio Graccho Cardoso. |
Na tarde
da última quinta (30/10) foi realizada a Roda de Leitura "Mulheres
Negras", no auditório do Museu Histórico Sergipe.
A ação educativa foi coordenada pelo historiador e poeta Thiago
Fragata, diretor do Museu, que apresentou os contadores-parceiros
Lola Arévalo Bernardes, Frei Romulo, João Lover, Deise Santos
Nascimento e Denize Santiago da Silva, e os respectivos autores
selecionados e suas obras.
A seleta apreciada pelos presentes, maioria formada por alunos do
Colégio Graccho Cardoso, foi assim formada: de Castro Alves, "A
mãe do cativo"; de Conceição Evaristo, "Vozes-mulheres";
de Aglacy Mary,
"Peles"; de Alzira Rufino, "Resgate";
e "Farpas aos contra cotas", do poeta coordenador. O tema
desta ação-educativa foi inspirada no V Círculo dos Ogãs, evento
que será realizada pela Ong Sociedade para o Avanço Humano e
Desenvolvimento Ecosófico (Ong Sahude)
entre os dias 18 e 21 de novembro próximo, semana da Consciência
Negra.
O
primeiro texto explorado foi “A mãe do cativo”, de Castro Alves,
autor dos clássicos “Navio Negreiro” e “Vozes da África”.
Alunos do Colégio Graccho Cardoso apresentaram jogral e o poeta
Frei Romulo recitou a obra forma dramatizada.
Aconteceu uma desconstrução dos versos para facilitar compreensão
da poética engajada, abolicionista, social.
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Poeta Frei Rômulo recita Castro Alves |
A
MÃE DO CATIVO
Autor:
Castro Alves
Ó
mãe do cativo! que alegre balanças
A rede que ataste nos galhos
da selva!
Melhor tu farias se à pobre criança
Cavasses a
cova por baixo da relva.
Ó mãe do cativo! que fias à
noite
As roupas do filho na choça da palha!
Melhor tu farias
se ao pobre pequeno
Tecesses o pano da branca
mortalha.
Misérrima! E ensinas ao triste menino
Que
existem virtudes e crimes no mundo
E ensinas ao filho que seja
brioso,
Que evite dos vícios o abismo profundo ...
E
louca, sacodes nesta alma, inda em trevas,
O raio da esperança...
Cruel ironia!
E ao pássaro mandas voar no infinito,
Enquanto
que o prende cadeia sombria! ...
II
Ó Mãe! não despertes
a criança que dorme,
Com o verbo sublime do Mártir da Cruz!
O
pobre que rola no abismo sem termo
Pra que há de sondá-lo... Que
morra sem luz.
Não vês no futuro seu negro fadário,
Ó
cega divina que cegas de amor?!
Ensina a teu filho - desonra,
misérias,
A vida nos crimes - a morte na dor.
Que seja
covarde... que marche encurvado...
Que de homem se torne sombrio
réptil.
Nem core de pejo, nem trema de raiva
Se a face lhe
cortam com o látego vil.
Arranca-o do leito... seu corpo
habitue-se
Ao frio das noites, aos raios do sol.
Na vida - só
cabe-lhe a tanga rasgada!
Na morte - só cabe-lhe o roto
lençol.
Ensina-o que morda... mas pérfido oculte-se
Bem
como a serpente por baixo da chã
Que impávido veja seus pais
desonrados,
Que veja sorrindo mancharem-lhe a irmã.
Ensina-lhe
as dores de um fero trabalho...
Trabalho que pagam com pútrido
pão.
Depois que os amigos açoite no tronco...
Depois que
adormeça com o sono e um cão.
Criança - não trema dos
transes de um mártir!
Mancebo - não sonhe delírios de
amor!
Marido - que a esposa conduza sorrindo
Ao leito devasso
do próprio senhor! ...
São estes os cantos que deves na
terra
Ao mísero escravo somente ensinar.
Ó Mãe que
balanças a rede selvagem
Que ataste nos troncos do vasto
pomar.
III
Ó Mãe do cativo, que fias à noite
À
luz da candeia na choça de palha!
Embala teu filho com essas
cantigas...
Ou tece-lhe o pano da branca mortalha.
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Poeta João Lover recita Conceição Evaristo |
O poeta
João Lover fez a leitura de Vozes-mulheres, de Conceição Evaristo.
Aproveitou para fazer considerações sobre “o grito que perpassa
as gerações, como eco, o grito da liberdade que constitui a
substancia da poesia”.
VOZES-MULHERES
Autora:
Conceição Evaristo
A voz de minha bisavó ecoou
Criança
Nos porões do navio
Ecoou lamentos
De uma infância perdida
A voz de minha avó
Ecoou obediência
Aos brancos-donos do mundo.
A voz de minha mãe
Ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
Debaixo das trouxas
Roupagens sujas dos brancos
Pelo caminho empoeirado
Rumo a favela.
A minha voz ainda
Ecoa versos perplexos
Com rimas de sangue
E fome
A voz de minha filha
Recolhe todas as nossas vozes
Recolhe em si
As vozes mudas caladas.
Engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
Recolhe em si
A fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
Se fará ouvir a ressonância
E o eco da vida-liberdade.
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Deise Nascimento lendo "Peles" |
A
professora Deise Santos Nascimento recitou a poesia “Peles”, de
Aglacy Mary. A vibração do seus alunos e os versos provocaram uma
catarse na plateia, uma “com fusão”, conforme diz a bela poesia.
PELES
Autora:
Aglacy Mary
Bela
confusão
A
pele negra escondida
sob
a noite que lhe cai
Não
sei onde é mais bela
Se
à luz contrastante do dia
Ou
mesmo ali
Entre
o crepúsculo e o amanhecer
Onde
a vejo
Banhando-se
na minha lua
Do
lado de dentro da minha rua
Bela
Com
fusão
Em
mim.
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Contadora Denize Santiago recita "Resgate" |
A diretora do Museu de Arte Sacra, Denize Santiago, fez leitura da poesia “resgate”, de Alzira Rufino. Sem tergiversar, enfatizou na economia dos versos a identidade do povo brasileiro.
RESGATE
Autor: Alzira Rufino
Sou negra ponto final
devolvo-me a identidade
rasgo minha certidão
sou negra
sem reticências
sem vírgulas sem ausências
sou negra balacobaco
sou negra noite cansaço
sou negra
Ponto final.
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Lola Arévalo recita com dedo em riste |
Por fim, Lola Arévalo Bernardes recitou a poesia “Farpas aos
contra cotas”, de Thiago Fragata. A menina de 7 anos encantou a
todos com a performance.
FARPAS
AOS CONTRA COTAS
Autor:
Thiago Fragata
É contra as cotas!?
Tenha dó
Não sente o chicote do racismo
açoitando a lei maior...
É contra as cotas!?
Cresceste na sociedade triste, racista, torta
Que segrega pela cor e renda familiar
Quer a Educação para os eleitos
Os poucos que a Sociedade abre portas...
É contra as cotas!?
Porque tem pena das contas
das contas do fim do mês
Tens filhinho na escola paga
E quer o melhor só pra ele, ok?
O fim do teu preconceito está longe, irmão
nem consegue enxergar...
Os poetas Frei Romulo e João Lover,
recém-chegados na comunidade sancristovense, mostraram grande
satisfação em participar pela primeira vez das rodas de leituras
que segundo Thiago Fragata acontecem na cidade desde abril de 2011.
GALERIA DE IMAGENS
CRÉDITO DAS FOTOS: FLAVIA SANTANA (SAHUDE)