Vania Correia, Rose Barbosa, Denize Santiago, Neverton Cruz, Thiago Fragata e Jória Dias |
O Museu Histórico
de Sergipe dedicou o dia 25 de setembro ao evento VII Primavera dos
Museus; com o tema “Museus, memória e cultura afro-brasileira”
foi apresentada uma extensa programação. A roda de leitura “Combatendo
o racismo” reuniu os contadores Jória Dias, Neverton Cruz,
Kleckstane Farias, Rose Mary Barbosa, Vania Dias Correia e Denize
Santiago, além dos poetas convidados, Luiz Melo e seu pai, Manoel
Ferreira, e alunos da Escola do Lar Imaculada Conceição (ELIC) e do
Centro Vocacional Tecnológico (CVT).
Diante dos olhos
atentos do seleto público, o coordenador Thiago Fragata, fez a
leitura de um trecho do discurso proferido por Martin Luther King (Washington, no dia 28 de agosto de 1963) falando do
seu cinquentenário, do contexto e da importância para os avanços
dos direitos civis dos negros norte-americanos.
Cinquentenário do discurso de Martin Luther King foi lembrado |
DISCURSO DE MARTIN
LUTHER KING (trecho)
Eu ainda tenho um
sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho
que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro
significado da sua crença: “Consideramos essas verdades como
auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.”
Eu tenho um sonho
que um dia, nas montanhas rubras da Geórgia, os filhos dos
descendentes de escravos e os filhos dos descendentes de donos de
escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho
que um dia mesmo o estado do Mississippi, um estado desértico
sufocado pelo calor da injustiça, e sufocado pelo calor da opressão,
será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho
que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde
não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu
caráter. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho
que um dia o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo
governador cospe palavras de “interposição” e “anulação”,
um dia bem lá no Alabama meninos negros e meninas negras possam
dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e
irmãos. Eu tenho um sonho hoje.
(confira na integra)
(confira na integra)
Martin Luther King (1929/1968) |
Na sequencia,
Vania Dias Correia (SUBPAC) fez leitura da poesia predileta do líder
Nelson Mandela, de autoria de William Ernest
Henley (1875). Antes foi destacado a importância
do texto poético na resistência do líder sul-africano ao
sofrimento da prisão determinada pelo regime do Apartheid.
INVICTUS
William Ernest Henley
William Ernest Henley
Dentro
da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que existem
por minha alma indomável
Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas continua erguida
Mais além deste lugar de lágrimas e ira,
Jazem os horrores da sombra.
Mas a ameaça dos anos,
Me encontra e me encontrará, sem medo.
Não importa quão estreito o portão
Quão repleta de castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino
Eu sou o capitão de minha alma.
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que existem
por minha alma indomável
Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas continua erguida
Mais além deste lugar de lágrimas e ira,
Jazem os horrores da sombra.
Mas a ameaça dos anos,
Me encontra e me encontrará, sem medo.
Não importa quão estreito o portão
Quão repleta de castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino
Eu sou o capitão de minha alma.
Nelson Mandela |
Denize Santiago declamou poesia de João Sapateiro |
Denize
Santiago recitou poesia Convocação (1967), de João Sapateiro, que
faz alusão ao assassinato de Patrice Lumumba, lider do Congo, pelo
exército do ditador Tchombe.
CONVOCAÇÃO
João
Sapateio
Juventude
congolesa,
não
dê tréguas ao vilão,
porque
com grande torpeza
mataram
o pai da nação!
Celerados
mercenários
ganhando
gordos salários,
Estraçalharam
crianças
sem
ter dó nem compaixão!
Não
permita que Tchombe
Mate
tanto e tanto zombe;
um
esforço conjugado
tem
significação.
Esperamos
que Lumumba
tão
vilmente trucidado
não
tenha em vão lutado,
nem
tenha tombado em vão!
Patrice Lumumba (1925/1961) |
A
contadora Rose Mary Barbosa (SUBPAC) ficou emocionada com a presença
de Luiz Melo, autor do texto poético cedido para ela interpretar, e
fez marcante leitura que encantou a todos.
COTIDIANO
DE NEGRO
Luiz
Melo
Olho
o mundo com o meu olho escuro
e
não me falta consciência
a
cor da minha pele
negra
afro-latina
atrai
raios raiva preconceitos
e
motiva a criação
de
distâncias e ausências.
Rédeas
regras
impedimentos
cotidiano
de negro.
Rédeas
curtas para o negro
como
para cavalo
regras
cultas para o negro
que
não pode apreendê-las
se
a aprendizagem é vedada
para
herdeiro de senzala.
Rédeas
regras
impedimentos
cotidiano
de negro.
Cortar
as rédeas
mudar
as regras
vencer
impedimentos
cotidiano
de negro.
Poeta Luiz Melo falou da sua obra literária. Foto: Marcelo Ferreira |
Em
seguida Neverton Cruz falou do trabalho poético de José Carlos
Limeira, antes da leitura da poesia selecionada.
Neverton Cruz recita poesia de José Carlos Limeira |
PARA DOMINGOS JORGE VELHO
José
Carlos Limeira
DOMINGOS,
bem que você poderia
Ter
sido menos canalha!
Está
certo que eras um filho da Coroa,
Súdito
leal,
E
os negros de Palmares...
Ora,
negro é negro.
Jorge
meu caro
Entendo
que estivesses vendo seu lado,
Ouro,
carne-seca, farinha, eram bem pagos
VELHO,
o que me dói é o fato de teres com
alguns
milhares
De
porcos dizimado um sonho
Justo
de Liberdade.
E
ainda por cima voltaste com
Três
mil orelhas de negro,
TRÊS
MIL!
Ontem
sentir um tremendo nojo
Quando
tive como herói no livro
De
História do meu filho.
Mas
foi no fim muito bom
Porque
veio de novo a vontade
De
reescrever tudo
E
agora sem heróis como você
Que
seriam o máximo, depois de revistos,
Assassinos,
e bem baratos.
Atenciosamente,
UM
NEGRO
Kleckstane Farias recitou poesia de Alex Santos |
A contadora
Kleckstane Farias (Casa do IPHAN) realizou a leitura da poesia “Chega
de Racismo”, de Alex Santos.
CHEGA DE RACISMO
Alex Santos
De
história mal contada
Chega de hipocrisia
De mentira esfarrapada
Esse preconceito infeliz
Que por aí diz
Que negro não vale nada.
O negro também precisa
Ser privilegiado
Chega de arrogância
Branco tenha cuidado
Com o preconceito em alta
Pois quem muito se exalta
É sempre humilhado.
Preto, branco e mulato
Vamos nos unir
O preconceito é horrível
E não é para existir
Já que todos somos irmãos
Essa grande nação
Espalhada por aí.
A consciência negra
Quer exatamente
Provar que somos iguais
E não diferentes
São lutas populares
Como as de Zumbi dos Palmares
Que morreu pela sua gente.
É preciso desde já
Com amor todo gentil
Acabar com o preconceito
E ver em nosso Brasil
O negro sorrindo tanto
Como a Daiane dos Santos,
Pelé e Gilberto Gil.
Chega de hipocrisia
De mentira esfarrapada
Esse preconceito infeliz
Que por aí diz
Que negro não vale nada.
O negro também precisa
Ser privilegiado
Chega de arrogância
Branco tenha cuidado
Com o preconceito em alta
Pois quem muito se exalta
É sempre humilhado.
Preto, branco e mulato
Vamos nos unir
O preconceito é horrível
E não é para existir
Já que todos somos irmãos
Essa grande nação
Espalhada por aí.
A consciência negra
Quer exatamente
Provar que somos iguais
E não diferentes
São lutas populares
Como as de Zumbi dos Palmares
Que morreu pela sua gente.
É preciso desde já
Com amor todo gentil
Acabar com o preconceito
E ver em nosso Brasil
O negro sorrindo tanto
Como a Daiane dos Santos,
Pelé e Gilberto Gil.
Jória Dias falou da importância da obra de Solano Trindade |
A
contadora Jória Dias leu a poesia emblemática de Solano Trindade.
SOU
NEGRO
Solano
Trindade
Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh,alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que
meus avós
vieram de Luanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
vieram de Luanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh,alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação.
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh,alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação.
Poesia de Éle Semog foi declamada |
Nas
considerações finais, o coordenador da II Roda de Leitura do Museu
Histórico de Sergipe, Thiago Fragata, leu poesia de Éle Semog.
PONTO
HISTÓRICO
Éle
Semog
Não
é que eu
seja
racista...
mas
existem certas
coisas
Que
só os negros
entendem.
Existem
um tipo de amor
que
só os Negros
possuem,
existe
uma marca no
peito,
que
só nos negros
se
vê,
existem
um sol
cansativo
que
só os negros
resistem.
Não
é que eu
seja
racista...
Mas
existe uma
História
que
só os negros
sabem
contar.
CONVIDADOS
Rose Nascimento parabenizou trabalho dos contadores |
Rose Nascimento, coordenadora do projeto Roda de Leituras, da Biblioteca Pública Epifanio Dória, prestigiou a II Roda de Leitura do Museu Histórico de Sergipe. Ela falou da satisfação em participar do evento, parabenizou pela metodologia e seleção de trabalhos poéticos dentro do tema.
Visivelmente
emocionado, o poeta e cordelista Luiz Melo, que é natural de São
Cristóvão, filho de outro poeta, Manoel Ferreira, falou da sua
poesia combativa destacada nos livros Negro (1980) e Pela Porta da
Frente (1989) e dos seus trabalhos musicados. Entre livros e cordéis
ele informou que já publicou cerca de 30 títulos, alguns retratando
sua inesquecível terra natal.