quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dom Pedro II em São Cristóvão*

D. Pedro II. Obra de Vitor Meirelles, 1864
  
Thiago Fragata**

A presença do Imperador D. Pedro II é sempre uma referência importante que desperta a curiosidade, o interesse do pesquisador, do visitante do Museu Histórico de Sergipe. O “imperador viajante”, como bem acentuou seus biógrafos, não tinha uma erudição amparada nos livros, pesquisas e na experiência administrativa mas também nas viagens que realizou aos mais distantes lugares do Brasil, uma obrigação que cumpria com satisfação e bom humor. Como ele visitou a Província de Sergipe, inclusive pernoitou em São Cristóvão, no sobrado em que hoje funciona o referido museu, a memória do acontecimento persiste às vezes de forma distorcida nas conversas de esquina da antiga cidade. Vejamos o que é possível informar a partir de uma publicação da época.

Consta que entre os dias 11 e 19 de janeiro de 1860, Dom Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina conheceram Sergipe. De Aracaju, capital da Província, o imperador visitou as vilas de Barra dos Coqueiros, Propriá, Vila Nova (Neópolis), Porto da Folha e Itaporanga; também, as cidades de Maruim, Laranjeiras, Estância e São Cristóvão. O plano inicial era chegar a ex-capital navegando pelo Vaza-Barris, mas a notícia da barra ressacada (com mar revolto)  influiu na escolha da montaria (cavalo) o que teria inviabilizado assim presença da imperatriz.

Na manhã do dia 17 de janeiro, às 5 horas, centenas de cavaleiros acompanharam a comitiva imperial depois da queima de fogos e formalidades de estilo. O imperador trajava paletó preto, calça branca, chapéu de palha e botas de montaria. A missão era formada por unidade da Guarda Nacional, Presidente Provincial, Manuel da Cunha Galvão, secretários, chefe da Polícia e demais autoridades. Cumpriram itinerário até São Cristóvão pela estrada de Campo Grande, Mundé da Onça e Vale do Medo, vencendo 5 léguas em 2 horas.

Na chegada a São Cristóvão a comitiva imperial foi recepcionada com vivas e flores, num centro histórico engalanado de arcos e colchas que ornavam as janelas residenciais. Cerca de 1200 praças, sob o comando do Tenente Coronel José Guilherme da Silveira Teles, da Guarda Nacional, prestaram continência ao magnânimo Imperador do Brasil. Este ficou hospedado no antigo Palácio Provincial que servia de Câmara Municipal de Vereadores e fora especialmente preparado para acomodar o ilustre monarca. Na sua estada, Dom Pedro II visitou escolas e argüiu alunos e professores, esteve nos conventos e igrejas, doou esmola a Santa Casa de Misericórdia, orou na Igreja Matriz, conheceu o mercado e cemitério local, ainda concedeu beijamão no salão (atual Sala Horácio Hora, do Museu Histórico de Sergipe). Embora nada mencione nas suas memórias é crível pensar que ele teria dormido num dos quartos do sobrado.

No dia seguinte, 18/1/1860, o imperador galopou 4 léguas até o engenho Escurial, propriedade de Antonio Dias Coelho e Mello, a fim de conhecer sua produção canavieira e criações de gado, cavalo e ovino. Antes do retorno a Aracaju, Dom Pedro II participou de almoço especialmente oferecido pelo proprietário do único engenho visitado em Sergipe.

Obra descreve como o atual Museu Histórico de Sergipe foi ornamentado para hospedar D. Pedro II

*Informações estão na obra: “Viagem Imperial á Provincia de Sergipe, ou narração dos preparativos, festejos e felicitações que tiveram lugar por ocasião da visita que fizerão a mesma província Suas Magestades Imperiais em janeiro de 1860”. Cópia disponível no Museu Histórico de Sergipe.

**Thiago Fragata é especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Sergipe, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), do Conselho Municipal de Cultura de São Cristóvão e diretor do Museu Histórico de Sergipe (MHS/SECULT). Email: thiagofragata@gmail.com

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